Com o fim da safra de soja 2021/22, alguns resultados foram abaixo do esperado. Apesar dos 4,4% de aumento de área plantada, a produtividade caiu 14,1% em relação ao ano passado, segundo o último Boletim de Grãos da Conab. Diante desse balanço negativo, que já era esperado por conta das variações climáticas e seus efeitos nas lavouras, especialmente no que se refere à incidência de doenças, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) publicou em 3 de fevereiro as novas diretrizes para o vazio sanitário da soja, como uma estratégia para reverter a queda de produção no próximo ciclo.

A decisão fixa mudanças no calendário da sojicultura para 21 unidades federativas produtoras de soja, alterando o período de janela de plantio. O objetivo é diminuir os danos causados pela ferrugem asiática, otimizar o manejo integrado de doenças logo nos momentos iniciais do cultivo, reduzir a necessidade de controle químico ao longo da safra e obter melhores resultados na próxima colheita.

Para entender melhor as implicações dessa decisão anunciada por meio da Portaria nº 516, nas próximas linhas discorreremos sobre a origem e a progressão da ferrugem asiática nas lavouras brasileiras e sobre as medidas aplicadas até então para controlar a doença. Para finalizar, desdobraremos a deliberação do novo período para o vazio sanitário e todas as mudanças que isso gera no planejamento do sojicultor para a safra 2022/23.

Ferrugem asiática: origem e progressão da doença na soja brasileira

Em 2001, foi identificada em lavouras brasileiras a primeira ocorrência do fungo Phakopsora pachyrhizi, responsável por causar a doença ferrugem asiática que já era um problema nas lavouras de países orientais. De fato, desde 1903 o Japão já lidava com o patógeno em suas plantações, que passou a ser encontrado na Austrália e na Índia em meados do século XX. Alcançou países africanos na década de 1990, até chegar ao Havaí e, finalmente, atingir também a América do Sul.

No Brasil, o Estado do Paraná foi a primeira vítima da ferrugem asiática, que não demorou muito para se alastrar para as outras regiões produtoras, resultando em uma infestação generalizada em 2004. Os danos da doença fúngica nas lavouras de soja foram muito severos, e sua alta capacidade de disseminação levou os produtores à necessidade de agir rapidamente para reverter o quadro.

A primeira reação imediata foi a aplicação de fungicidas para impedir o desenvolvimento descontrolado do patógeno. No entanto, o ciclo de vida acelerado do Phakopsora pachyrhizi, cuja difusão é favorecida por condições climáticas de temperaturas amenas e alta umidade, propiciou a rápida adaptação das populações do fungo aos princípios ativos dos produtos disponíveis no mercado. Com isso, a resistência do patógeno às moléculas que compõem as soluções de manejo fez com que o problema da infestação e os prejuízos nas lavouras de soja não fossem revertidos.

Diante dessa ameaça iminente à produção da soja brasileira, instituições públicas e privadas passaram a estudar o comportamento do patógeno nas lavouras, a fim de encontrar medidas integradas de manejo de doenças que pudessem proteger a sojicultura nacional e oferecer maior tranquilidade aos produtores. Foi então que o vazio sanitário da soja foi aplicado pela primeira vez.

Vazio sanitário da soja: uma medida de manejo contra a ferrugem asiática

Os governos Federal e Estaduais já se mostravam bastante engajados na proteção do cultivo de soja quando o Mapa publicou, em maio do ano passado, a Portaria nº 306/2021, que visava atualizar o PNCFS (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja) criado em 2007.

A Portaria instituiu à Secretaria de Defesa Agropecuária a função de tomar medidas fitossanitárias relacionadas ao vazio sanitário da soja e descentralizou o desdobramento das ações oferecendo autonomia deliberativa aos órgãos estaduais de Defesa Sanitária Vegetal em 20 Estados. Com isso, o manejo contra a ferrugem asiática poderia ser mais efetivo, considerando as condições específicas de cada região produtora.

O que é o vazio sanitário?

O vazio sanitário é o período definido e contínuo em que não se pode semear ou manter vivas plantas de soja em determinadas áreas. A iniciativa toma como base pesquisas que indicaram a sucessão soja-soja como um agravante na infestação do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática.

Assim, é preciso manter um período mínimo sem o cultivo, para que a eliminação das plantas hospedeiras, no caso a soja tiguera, seja uma estratégia de manejo pré-semeadura para erradicar a doença fúngica nas lavouras. O ciclo de vida curto do fungo, de 6 a 9 dias, apesar de ocasionar sua rápida propagação, também permite combater as populações em pouco tempo.

Por isso, o período de vazio sanitário é considerado indispensável para a contenção do patógeno, uma vez que manter as áreas de produção de soja limpas por 60 dias ou mais pode impedir o desenvolvimento dos inóculos e frear a reprodução do fungo, evitando a infestação precoce nas lavouras.

A partir da determinação do vazio sanitário, fica estabelecido o calendário de semeadura na soja, que, conforme consta na Portaria nº 306/2021, é:

“recomendado pela pesquisa científica como medida que visa a racionalização do número de aplicações de fungicidas e a consequente redução dos riscos de desenvolvimento de resistência do fungo causador da doença, até o momento estabelecido por apenas alguns estados produtores, passa então a ser reconhecido oficialmente pelo Mapa, com adoção obrigatória em nível nacional.”

Diante disso, além de restringir o cultivo da soja como uma medida de controle da ferrugem asiática, o vazio sanitário estipula também as janelas de plantio, que devem ser devidamente regulamentadas em cada Estado para que não haja infestação tardia nas plantações, evitando a necessidade de aplicação abundante de fungicidas e driblando a resistência do fungo aos produtos disponíveis no mercado.

O que muda com a nova deliberação do Mapa para o vazio sanitário?

Para a safra de soja 2022/23, o Mapa, por meio da Portaria nº 516, estende a obrigatoriedade do vazio sanitário de 14 unidades federativas que exercem a sojicultura em seus territórios para 21 unidades, incluindo o Distrito Federal.

A principal mudança diz respeito à extensão do período mínimo obrigatório para ausência de plantas nas lavouras, que passou de 60 para 90 dias. Isso implica em mudança no calendário de semeadura, com uma janela de plantio que se adequa à realidade de cada região produtora, considerando a data de finalização da colheita da safra 2021/22, bem como os 90 dias para eliminação de plantas hospedeiras nas áreas de plantio – com tempo hábil para frear a propagação do fungo causador da ferrugem asiática – e o momento previsto para início das safrinhas após o cultivo da soja.

Veja a seguir como ficou determinado o calendário de plantio da soja em cada Estado:

Infográfico

Como podemos observar, alguns dos Estados produtores iniciam o período de vazio sanitário já em junho, enquanto em outros, o calendário se inicia no fim deste ano ou começo do próximo. Assim, apenas em abril de 2023 teremos todas as regiões que produzem soja no Brasil aptas a realizar a semeadura.

Vale ainda ressaltar que, com a autonomia concedida aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária, alguns Estados podem vir a aplicar alterações nos calendários de plantio na área produtora que lhe compete. Esse é o caso do Tocantins, por meio da ADAPEC (Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins), e de Goiás, por meio da Agrodefesa (Agência Goiana de Defesa Agropecuária). Tal flexibilidade se dá pelos contextos específicos que os gestores identificam nessas regiões.

Exceções para plantio ou manutenção de plantas vivas de soja

O Governo Federal publicou ainda as condições de excepcionalidade para plantio ou manutenção de plantas vivas de soja durante o vazio sanitário em cada Estado. Em resumo, a autorização em caráter excepcional tem as seguintes finalidades:

  • pesquisa científica;

  • projetos de avanço de linhagem genética da soja;

  • demonstração em feiras agrícolas;

  • produção de grãos em casos de perda de safra por fenômenos naturais;

  • produção de sementes;

  • ensino e aprendizagem em instituições públicas ou privadas.

Ademais, estão definidos os critérios de produção de soja para a safra 2022/23, no que diz respeito ao vazio sanitário e às janelas de plantio como forma de minimizar os danos causados pela ferrugem asiática e diminuir a necessidade de aplicações de fungicidas para controle da doença ao longo do cultivo.

Para finalizar, é importante destacar que este é um momento em que o sojicultor também deve ter em vista a prática e as técnicas de dessecação pré-plantio na soja.

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Redação Mais Agro