Há alguns anos o citricultor tem arrepios ao escutar o nome de uma grave ameaça à sua lavoura: greening ou huanglongbing (HLB). Esta é considerada a pior doença do cultivo de citrus, devido à sua dificuldade de controle e rápida disseminação, prejudicando seriamente a produtividade e o desenvolvimento das plantas.

O greening é originário da Ásia, mais provavelmente da China, e teve seu primeiro aparecimento registrado no Brasil em 2004, na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. Hoje a doença está presente na maior parte das regiões produtoras de citrus do Brasil.

Vale ressaltar que o Brasil mantém-se como o maior produtor mundial de laranja desde o início da década de 90, sendo responsável por 79% do comércio internacional do suco proveniente da fruta.

Entenda porque o greening é tão perigoso para a citricultura

Apesar de ser uma doença relativamente recente no país, o greening representa alto risco para a citricultura, podendo dizimar todo um pomar se a identificação da doença não for realizada em tempo hábil.

Um exemplo são os pomares da Flórida, principal Estado citricultor dos Estados Unidos da América, que já foi referência na produção de suco de laranja. No entanto, a alta incidência de greening tem alterado o sabor dos frutos e a qualidade do suco, já que a doença provoca aumento da acidez,amargor e redução do teor de sólidos solúveis.

Neste caso, inclusive, a perda de produtividade tem sido registrada a cada safra, com uma estimativa de queda de aproximadamente 80% desde que a doença apareceu no Estado americano, em 2005. Essa porcentagem se compara ao que a Flórida produzia entre 2002 e 2004, ou seja, a produção atual de laranja nos EUA corresponde a apenas cerca de 20% do montante produzido há duas décadas e a estimativa para a safra de 2022 é de que a produção seja 22% menor que a anterior.

Todos esses problemas acontecem porque o greening é uma doença que não tem cura e é considerada de difícil controle. É ocasionada pelas bactérias Candidatus liberibacter spp. transmitidas por um inseto-transmissor, o psilídeo (Diaphorina citri). Esta é uma praga que mede entre 2 mm e 3 mm de comprimento e possui coloração marrom.

O psilídeo passa por seis estágios de desenvolvimento, de ovo a adulto. Ele adquire a bactéria ao se alimentar das plantas doentes e a transmite ao se alimentar das sadias. Tanto a aquisição quanto a transmissão da bactéria ocorrem depois de 15 minutos de alimentação, mas, quanto maior o tempo que ele passa se alimentando, maiores são as taxas de infecção. A aquisição da bactéria também é maior quando o psilídeo está na fase de ninfa, e a transmissão acontece mais em brotos do que em folhas maduras. Por isso não se deve deixar plantas doentes no pomar.

Vale ressaltar que os psilídeos também se reproduzem na planta ornamental conhecida como murta, falsa murta ou dama da noite (Murraya paniculata), muito utilizada na arborização urbana e como cerca viva.

psilídeo

4 pontos importantes sobre o greening

Por ser uma doença que não tem cura, é recomendado o manejo de prevenção, uma vez que plantas infectadas precisam ser erradicadas. Veja abaixo quatro pontos importantes para entender o ciclo do greening:

  1. Disseminação da doença: além do psilídeo, plantas infectadas com a bactéria são responsáveis pela sobrevivência e disseminação da doença em todos os tipos de citrus, como laranja, limão, tangerina, mexerica, entre outros.

  1. Comportamento da bactéria: uma vez que a bactéria se instala nos vasos do floema das plantas de citrus, ela se espalha rapidamente por todas as partes da árvore, atingindo raízes, tronco, ramos, folhas e frutos.

  1. Aparecimento de sintomas: após a transmissão da bactéria, os sintomas do greening devem aparecer em torno de quatro meses após a infecção da planta, surgindo primeiramente nas folhas das árvores.

  1. Manejo preventivo: é importantíssimo realizar a inspeção e o manejo preventivo da doença, pois uma planta infectada, mas sem sintomas aparentes, pode servir de fonte para que as bactérias infectem plantas sadias.

Diante desse cenário tão preocupante, é importante que o produtor atente-se aos sintomas da doença para que as medidas de controle rigoroso sejam colocadas em prática antes da sua disseminação.

Como identificar os sintomas do greening?

greening

A princípio, o greening não é facilmente identificado na lavoura e pode ser confundido com outras doenças dos pomares. Por isso, é necessário a vistoria constante das plantas e também o acompanhamento de um engenheiro agrônomo, uma vez que os sintomas podem aparecer durante todo o ano, com mais incidência no final do verão e no início da primavera.

Vale ressaltar que quando há o aparecimento de sintomas nas folhas ou nos frutos localizados nas extremidades dos ramos, significa que a doença já tomou conta de toda a planta, incluindo tronco e raízes. Sendo assim, a poda de ramos nesse caso é uma ação ineficaz e até perigosa, pois as novas brotações servem como atrativo para o inseto-transmissor, podendo provocar novas infecções.

Entre os sintomas do greening, podemos citar:

  • Tanto em plantas adultas, quanto novas, as folhas ficam amareladas, com grande tendência à queda precoce, sendo que a árvore fica comprometida entre o prazo de um ou dois anos.

  • Já em pomares mais velhos, os ramos apresentam folhas mosqueadas, ou seja, surgem manchas irregulares no limbo foliar com uma coloração que varia entre verde e amarelo, sem simetria entre as duas metades da folha. Pode levar de três a cinco anos para que as árvores sejam totalmente comprometidas.

  • Frutos de ramos com greening não amadurecem conforme o previsto e adquirem uma coloração verde-clara com diversas manchas, além de caírem precocemente. Podem apresentar deformação, tamanho reduzido e assimetria em relação à columela central.

  • No interior do fruto, os filetes se tornam alaranjados na columela a partir da região do pedúnculo, com sementes necrosadas e o albedo com espessura maior quando comparada a de um fruto sadio.

  • O suco das frutas tomadas por greening apresenta sabor ácido, menos doce e mais amargo.

Métodos de manejo preventivo contra o greening

Para o manejo do greening nos pomares, é essencial que o citricultor faça o plantio de mudas sadias, elimine todas as plantas doentes e realize o controle eficaz do psilídeo.

De acordo com a Instrução Normativa nº 53, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em outubro de 2008, é imprescindível que o produtor faça a inspeção do pomar a cada três meses, com encaminhamento de resultados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento dos Estados por meio de relatórios semestrais.

O Estado de São Paulo, por exemplo, é a maior região produtora de citrus no Brasil e, para controlar o avanço da doença, a SAA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo) divulgou recentemente uma nova resolução sobre o greening que indica outros procedimentos complementares.

Entre esses procedimentos estão a erradicação obrigatória de plantas com a doença em pomares comerciais com até oito anos, quintais e pomares não comerciais; a erradicação facultativa de plantas com greening desde que haja controle de psilídeo em pomares comerciais acima de oito anos; a vistoria de árvores sintomáticas, monitoramento e controle de psilídeo obrigatórios em todas as propriedades com plantas de citrus e murtas e a permissão negada de existência a pomares comerciais sem o manejo adequado da doença.

Além disso, outras medidas importantes que compõem o manejo integrado de prevenção ao greening são:

  • Escolha do local de plantio: verificar se a área teve casos de greening e optar por áreas grandes e de formato quadrado, evitando plantios recortados e estreitos para diminuir a área de borda.

  • Plantio de mudas sadias: investir em mudas certificadas e com qualidade atestada pelos órgãos competentes oferece condições favoráveis de desenvolvimento de uma lavoura não contaminada pela doença.

  • Inspeção de plantas: é extremamente importante realizar inspeções constantes nos pomares a fim de identificar possíveis focos de greening desde o início.

  • Erradicação de plantas com sintomas: a erradicação de plantas infectadas com greening funciona de acordo com a legislação do Estado de produção, pois depende da idade e da severidade da doença, uma vez que ela pode servir de alimento para o inseto-vetor e contaminar todo o pomar.

  • Monitoramento do inseto-transmissor: acompanhar a evolução da população de psilídeo na citricultura é imprescindível para que o produtor tome a melhor decisão sobre o controle da praga.

  • Controle químico: realizar pulverizações de inseticidas sob a recomendação técnica de um engenheiro agrônomo é uma das medidas mais importantes para suprimir a presença do inseto-vetor que auxilia na disseminação do greening no pomar.

  • Manejo regional fitossanitário: é fundamental que todos os citricultores de uma determinada região com foco de greening realizem o manejo integrado a fim de evitar novos casos da doença nas áreas produtoras de citrus.

Sabendo da grande ameaça que o greening representa para a citricultura brasileira, diversas associações realizam pesquisas e ações relevantes sobre o assunto, a fim de encontrar soluções diversas e eficazes para o controle da doença.

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Fundecitrus: greening é coisa séria

fundecitrus

O Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) é uma associação privada, mantida e formada por citricultores e indústrias de suco do Estado de São Paulo, que tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável da citricultura por meio de pesquisas, tecnologias e capacitação profissional para apoiar o citricultor nos desafios diários dos pomares.

A associação desempenha um importante papel frente ao controle do greening realizando pesquisas, dias de campo e desenvolvendo novas formas de manejo para que o controle da doença seja eficiente.

A campanha “Greening é coisa séria” reúne diversas ações para alertar o citricultor sobre a agressividade da doença nos pomares e também relembra como a prática do manejo integrado pode evitar a perda de produtividade por conta dessa doença.

Ciente dos problemas do citricultor no campo, a Syngenta é uma grande aliada do Fundecitrus para manter e ampliar o alerta fitossanitário em relação à doença e para a realização de ações de educação fitossanitária para os citricultores. Além disso, a empresa reconhece que a atuação da instituição tem ajudado a garantir a competitividade da citricultura brasileira, contribuindo para que o primeiro lugar do Brasil mantenha-se por muito tempo.

A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.

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