A eficácia e a segurança do controle químico em lavouras estão diretamente relacionadas à pulverização. Ela deve ser realizada de forma correta e responsável, já que erros nesse momento podem gerar prejuízos consideráveis e também danos à saúde humana e ao meio ambiente. Mateus Queiroz, Coordenador de Sustentabilidade da Syngenta, explicou quais são os erros mais comuns na hora da pulverização e como evitá-los ou solucioná-los. Confira nos tópicos abaixo.

Escolha das pontas de pulverização
De forma geral, os defensivos podem ser enquadrados como de ação sistêmica ou de contato.
Os produtos de contato precisam atingir os alvos com cobertura e quantidade suficientes para promover o controle. Esses defensivos devem ser pulverizados com gotas de finas a médias, que proporcionam melhor cobertura.
Já no caso dos produtos sistêmicos, a área de cobertura com a calda pode ser menor, já que o produto é absorvido pela planta. Gotas de médias a grossas são mais indicadas para essa classe de defensivos.
O que ocorre muitas vezes é que o aplicador utiliza um mesmo tipo de ponta para pulverizações de todos os tipos de produto. Desta forma, a pulverização sem variação da técnica de aplicação pode não gerar o melhor resultado.

Estado de conservação das pontas
As pontas de pulverização têm vida útil (horas de trabalho) e ela muda conforme os materiais em que são fabricadas e os tipos de formulação dos produtos pulverizados. Os fabricantes de pontas disponibilizam catálogos com informações sobre a performance das mesmas. Por exemplo, para uma determinada pressão, uma ponta apresenta uma vazão de um litro por minuto. Por meio de teste, com pulverização de água, é possível verificar se tal ponta está pulverizando mesmo a quantidade adequada. Variações superiores a 10%, para mais ou para menos, demonstram que a ponta não está em bom estado de conservação.
As pontas podem apresentar dois tipos de problemas: desgaste ou entupimento. Produtos com componentes sólidos e de difícil diluição na formulação provocam maior desgaste e/ou entupimentos. Pontas desgastadas devem ser descartadas.
No caso de pontas entupidas, a recomendação é utilizar uma escova própria e realizar a limpeza das mesmas com água e detergente. No lugar da escova própria para limpeza, pode ser utilizada uma escova de dente com cerdas duras (obviamente, essa escova não deve ser utilizada depois para a higiene bucal). O desentupimento de bicos também nunca deve ser feito com a boca, já que não deve haver o contato direto com os produtos agroquímicos.

Deriva
A ineficácia da pulverização de produtos pode também estar relacionada à deriva, que é o carregamento das gotas pelo vento para fora da área de aplicação. Além do óbvio prejuízo, pelo fato de não pulverizar as plantas que precisam de controle, a deriva pode gerar impactos ambientais, já que pode levar o defensivo para áreas indesejadas e sujeitá-las a contaminação. A solução para evitar a deriva é realizar a pulverização em condições meteorológicas adequadas (umidade do ar acima de 50%, temperatura abaixo de 30°C e vento entre 3 e 10 km/h) e com equipamentos de aplicação em bom estado.

Excesso de mistura de produtos no tanque do pulverizador
Muitas vezes, na tentativa de economizar tempo e mão-de-obra, aplicadores misturam diferentes produtos em uma mesma calda. Quanto mais produtos na mistura, maior é a chance de haver incompatibilidade física (a formação de cristais ou borra, por exemplo). Quanto mais produtos na mistura, maior também é a chance de ocorrer antagonismo (a interferência negativa de um produto sobre outro e a diminuição da eficiência de pelo menos um deles). Há casos, no entanto, em que há sinergismo (um produto funciona melhor quando misturado a outro).

Volume baixo de aplicação
Outro caso de tentativa de economia de tempo na pulverização é a utilização de baixos volumes de calda. Por exemplo, o volume adequado é de 100 litros por hectare. Mas o aplicador utiliza apenas 50 litros, o que provoca uma grande concentração do ativo, que foi diluido em menor quantidade de água, e pode gerar diversos problemas. Com uma concentração muita alta, no caso de deriva, o prejuízo econômico e a possibilidade de contaminação do meio ambiente são maiores. Então, os volumes indicados nas bulas dos produtos devem ser respeitados, já que eles têm como base uma série de estudos de eficiência.

Não deixar calda no tanque por longos períodos
Não é adequado deixar restos de calda no tanque do pulverizador por longos períodos. Isso muitas vezes ocorre devido à interrupção da pulverização devido às mudanças nas condições meteorológicas ou erro de planejamento da quantidade de calda (preparo de mais calda que o necessário). A não lavagem do tanque após a pulverização também pode fazer com que resíduos de produto fiquem retidos e, assim, eles podem causar prejuízos à lavoura na próxima utilização do pulverizador, além de causar corrosão e desgaste nos componentes internos do equipamento.

Não utilização de EPIs
O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) é obrigatório no manuseio e na pulverização de produtos e na reentrada em áreas tratadas. Os EPIs devem sempre estar em bom estado de conservação, já que são importantes para evitar a contaminação de pessoas. Dentro de pulverizadores de cabine fechada, no entanto, não é recomendado usar EPIs, já que eventuais resíduos nos equipamentos poderiam contaminar o operador.

Descarte de embalagens
Após o uso de produtos, as embalagens devem passar por tríplice lavagem, serem inutilizadas por meio de perfuração no fundo e serem descartadas de forma adequada (destinadas a unidades de recebimento de embalagens vazias).

O Coordenador de Sustentabilidade da Syngenta reforça que as bulas e os rótulos dos produtos trazem muitas informações úteis para a realização de uma pulverização segura e eficaz. Portanto, a leitura e o entendimento de bulas e rótulos são fundamentais.