O mês de julho no Brasil foi marcado por quedas de temperatura e chuvas irregulares em todas as regiões produtoras, com exceção do Nordeste, que vem recebendo boa quantidade de precipitações. Frio intenso e geadas no Sul do país, como consequência do ciclone extratropical, podem prejudicar as lavouras instaladas, e o clima seco favoreceu o andamento da colheita do milho safrinha nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. 

Os padrões climáticos indicam condições semelhantes para agosto, mas em setembro já deve haver uma densidade pluviométrica maior, com as chuvas entrando mais cedo do que o normal, embora ainda irregulares. 

Com o El Niño, é esperado um frio tardio e baixas temperaturas estendendo-se para agosto e setembro, o que pode ser um ponto de atenção para o início das semeaduras da safra 2023/24.

As condições climáticas que afetam as lavouras brasileiras inferem diretamente na dinâmica do mercado agrícola internacional, que se constrói em um ambiente de pressão e competitividade entre Brasil e Estados Unidos.

Para avaliar os impactos disso no mercado, é possível tomar como lição o ano de 2021, quando a safra estadunidense foi afetada pela alta temperatura. Ainda que não tenha sido um ano de safra cheia no Brasil, a China, grande importador de soja, deu preferência ao grão brasileiro.

Naquele ano, a central de conteúdos Mais Agro realizou uma análise das previsões para o mercado agrícola frente à competição entre Brasil e EUA e aos resultados de produção projetados para cada país. 

Agora, depois de uma safra brasileira recorde na produção de grãos e diante de condições climáticas mais favoráveis para o nosso país, vale reavaliar essa relação, considerando as expectativas iniciais projetadas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e os dados econômicos disponibilizados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
mercado de grãos

Como se pode perceber pela tabela acima, as altas que anunciamos em 2021, no artigo Clima adverso nos EUA impulsiona vendas da soja brasileira para China, seguiram crescentes nos dois anos seguintes. Naquela safra, a produção brasileira não foi das melhores, mas a baixa estadunidense e a alta nos preços permitiram bons resultados para o balanço comercial do agronegócio nacional

Para este ano, temos o cenário inverso: safra cheia e preços em queda. No entanto, o grande volume de grãos produzidos em 2022/23 permite que a balança comercial siga em alta. Além disso, os preços da soja em julho sofreram leve recuperação na bolsa de Chicago, frente à confirmação de queda da produção estadunidense em comparação com as projeções iniciais (-4,65% entre junho e julho).

Apesar de um leve recuo da economia brasileira no mercado de grãos, na comparação entre 2022 e 2023, devido à queda nos preços das commodities, os resultados negativos da agricultura nos Estados Unidos por conta do clima abrem boas oportunidades de concorrência. Ademais, as exportações recuaram um pouco no período, mas o superávit avançou.

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Com o plantio de 2023/24 finalizado, a expectativa de safra cheia nos EUA está cada vez mais distante. As regiões produtoras do Norte do país sofreram atrasos na semeadura da soja, por conta da queda na temperatura e da alta umidade nas lavouras, o que pode prejudicar o desenvolvimento das plantas. 

As lavouras da região central do país foram afetadas por uma forte seca, e, no cinturão do milho, o plantio ocorreu em condição de escassez pluviométrica, facilitando as operações no campo, mas colocando em risco o desenvolvimento inicial das plantas.

A condição de seca no Centro-Oeste dos EUA, onde se encontram as principais regiões produtoras de grãos, permaneceu entre junho e julho. Houve chuvas pontuais na segunda quinzena de julho somente ao sul do cinturão do milho. Os Estados mais importantes para a agricultura permanecem sob estresse hídrico. De acordo com a USDA, 50% da área de soja estava sob seca em 18 de julho, um recuo de 7% em sete dias. Para o milho, a seca atinge 55% das áreas. 

A persistência da seca e de temperaturas acima da média resulta na diminuição da expectativa de produção. Especialistas avaliam que, caso haja ausência de chuvas por 30 dias, cerca de 40% da safra de milho pode ser prejudicada, com consequências também para a soja. 

O progresso de safra da USDA, publicado em 17 de julho, mostrou que cerca de metade das lavouras de milho 2023/24 já se encaminhavam para o início do estádio reprodutivo (R1 – embonecamento), um ritmo mais acelerado em comparação com o mesmo período de 2022. 

As condições das lavouras estavam classificadas entre razoáveis e boas, com pouquíssimas na categoria “excelente”. Em comparação com o relatório de 30 de maio, a quantidade de lavouras de milho com boas condições de desenvolvimento diminuiu.

O plantio da soja já estava concluído, com 56% das lavouras em floração e algumas em formação de vagens, sob condições melhores do que a semana anterior, devido às chuvas pontuais que incidiram sobre algumas lavouras. 

O trigo de inverno apresentava um ritmo de desenvolvimento aquém ao de 2022, com somente 56% em fase de colheita. As condições das lavouras não eram positivas para os EUA, ainda que ligeiramente melhores do que o verificado em maio: 11% classificadas como “muito pobres”; 17% “pobres”; 32% “razoáveis”; 33% boas”; e 7% “excelentes”. 

Brasil: o que esperar para a safra de grãos 2023/24?

Depois de uma safra com clima desafiador em 2021/22, o ciclo 2022/23 já se deu sob melhores condições, com o fim do fenômeno La Niña. Soja, trigo e milho safrinha no Brasil foram beneficiados por esse contexto. O bom volume de chuvas, salvo algumas regiões, manteve o nível de água no solo suficiente em abril e maio na maior parte do país, favorecendo o desenvolvimento das lavouras implantadas. 

Em junho, a precipitação acumulada foi baixa para a região Centro-Oeste e Sudeste, com exceção do Mato Grosso do Sul, diminuindo o armazenamento hídrico no solo. Essa condição favoreceu a secagem do milho safrinha e a qualidade das fibras de algodão, mas restringiu o desenvolvimento das culturas em determinadas lavouras em estádio reprodutivo de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Para as outras regiões produtoras as chuvas foram satisfatórias. 

Na segunda quinzena de julho, as chuvas voltaram a ocorrer na região Sul, devido ao ciclone extratropical. Tal condição pode favorecer a manutenção dos reservatórios de água, mas tem chances de gerar riscos à produção, caso haja encharcamento por longo período, impedindo a entrada de maquinários nas lavouras, prejudicando as operações de manejo e colheita, favorecendo a explosão populacional de pragas e patógenos e danificando plantas em fase de enchimento de grãos e maturação. 

Tudo isso pode gerar uma reação em cadeia com possibilidade de prejudicar o início da safra 2023/24, de maneira que a estabilização das chuvas e a chegada de um período seco durante o inverno seria o melhor cenário para agosto.

mercado de grãos

A queda nas temperaturas em grande parte das regiões produtoras também é um alarmante, especialmente por conta do risco de geadas que se instala no Sul do país. As condições em junho e julho já indicam alguma influência do El Niño que está se formando.

Enfim, as expectativas para a agricultura nos Estados Unidos e no Brasil, junto com as análises climáticas para ambos os países, desenham o cenário de competição no mercado agrícola internacional, com produtores brasileiros conquistando cada vez mais espaço de negociação, por conta da quantidade e da qualidade dos grãos produzidos. 

É importante, nesse momento de entressafra, acompanhar o movimento dos preços das commodities e as condições das lavouras estadunidenses, para antecipar as oportunidades de comercialização no mercado futuro e criar estratégias de negócios mais rentáveis para o agricultor brasileiro

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