Imagine uma safra em que você, produtor de grãos, selecionou os melhores insumos, adotou boas práticas agrícolas e escolheu manejos estratégicos que reduziram seus custos de produção e protegeram sua produtividade. Mesmo após uma colheita de sucesso, ainda não podemos afirmar a boa rentabilidade do seu negócio – por quê? Porque ainda há um fator importante para entrar na conta: as perdas do transporte de grãos.

De acordo com a Esalq-USP, o transporte rodoviário de grãos é responsável por cerca de 13,3% do total de perdas nas safras de grãos. Se essa porcentagem parece inofensiva, permita-nos mostrar isso na perspectiva dos agricultores: em valores, isso representa perdas em torno de 800 milhões a 1 bilhão de reais.

Os agricultores trabalham por meses superando cada desafio que surge no campo, como: pragas, doenças, daninhas e condições climáticas desfavoráveis para as plantas. Além disso, ainda precisam equilibrar os custos de produção com a previsão de retorno de acordo com um mercado volátil, para que suas lavouras sejam economicamente viáveis.

Após meses de esforço e dedicação, o que menos se espera é que todo esse trabalho seja escoado pelas estradas. As perdas pós-colheita, que incluem o transporte, podem comprometer a rentabilidade do produtor, aumentando as chances de os alimentos estarem mais caros para o consumidor final.

Quando o produtor perde, todo mundo perde – e é por isso que o modal rodoviário deve ser uma preocupação de todos. Reduzir as perdas no transporte de grãos por rodovias não só é possível, como necessário!

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O que pode estar fazendo você perder dinheiro no transporte de grãos por rodovias?

Já vimos que durante o transporte de grãos, os agricultores podem estar deixando de 800 mil a 1 bilhão de reais pelas estradas, certo? Se esses números já te preocuparam, cuidado com a informação que vem logo após os dois pontos: considerando a produção de alimentos em larga escala, os prejuízos giram em torno de 400 bilhões de dólares por ano.

Sim, de acordo com a ONU, cerca de 14% de todo alimento produzido no mundo nem sequer chega aos mercados. Temos então o equivalente ao PIB da Áustria somente em perdas durante o transporte de produtos agropecuários. 

Segundo publicação do jornal da USP, as perdas durante o transporte de grãos no Brasil são a segunda maior causa de perdas na safra, ficando atrás apenas do armazenamento em si.

Mas, afinal, o que pode estar fazendo os agricultores perderem tanto dinheiro nas estradas do país? Uma das respostas pode ser tirada dessa própria pergunta: um dos principais motivos das perdas de grãos nas estradas brasileiras são as próprias estradas brasileiras.

As estradas mal planejadas ou deterioradas são um problema antigo no transporte rodoviário de grãos. Seja em rodovias pavimentadas ou estradas de terra, a infraestrutura precária faz com que a carga sofra impactos e movimentações que causam danos não só aos caminhões, mas também aos grãos.

Por falar em caminhões, a falta de manutenção ou o uso de veículos em estado precário potencializam as perdas. Isso porque, nessas condições, uma parte dos grãos é perdida ao longo do caminho, enquanto outra parte dos que sobram acaba sofrendo danos físicos que afetam a qualidade e a rentabilidade da carga.

As rodovias mal estruturadas também podem causar danos indiretos mas significativos para o agricultor: estradas de má qualidade favorecem acidentes, nos quais é possível perder carregamentos inteiros e de grande valor.

Além disso, em locais afastados, sem segurança e sem iluminação, os caminhões se tornam alvos fáceis para criminosos especializados em roubo de cargas, principalmente quando se trata de commodities, como os grãos. Se a estrada contribuir para danos ao caminhão, a parada obrigatória para fazer reparos ou contatar ajuda também pode colocar em risco a segurança do motorista e da carga.

Como reduzir a perda de grãos no transporte rodoviário?

Como vimos até aqui, a perda de grãos no transporte rodoviário pode ocorrer por três motivos principais:

  • má gestão do agricultor/proprietário;
  • deficiência de infraestrutura nas estradas e rodovias;
  • fatores indiretos, como acidentes e roubos.

Como tudo durante a safra, existem fatores que independem do agricultor – mas, para reduzir ao máximo as perdas no transporte de grãos, é imprescindível que o gestor da lavoura execute de maneira estratégica e correta tudo aquilo que está ao seu alcance.

Como fazer isso na prática? A gente te conta:

1. Melhor prevenir do que remediar: planeje as rotas com inteligência

De acordo com a Confederação Nacional do Transporte, um caminhão perde, em média, 0,13% da carga em boas estradas e 0,26% em estradas ruins. Traduzindo: o trajeto que você determinar para o caminhão pode dobrar as chances de perdas da sua produtividade.

É importante ressaltar que esse valor representa as perdas comuns, por grãos que ficam pelas estradas ou que sofrem detrimento pelos impactos durante o transporte. Se formos considerar as chances de acidentes e a periculosidade da região/via, essa porcentagem poderia ser ainda mais expressiva.

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Na hora de planejar as rotas, é importante considerar todos os aspectos que possam envolver perdas de carga e danos aos caminhões. Desse modo, é possível, então, analisar a situação e escolher não só pelo valor do frete, mas pela segurança da produção e de sua rentabilidade.

Estradas mal estruturadas, além de colocar a carga em risco, aumentam a necessidade de manutenções nos caminhões, o que pode mascarar a lucratividade do seu negócio.

A tecnologia é uma grande aliada do gestor/produtor na hora de planejar rotas inteligentes. Além de avaliar trajetos de acordo com o tempo e a distância, é possível adicionar no planejamento rotas alternativas e alertas dinâmicos sobre acidentes e outros eventos que possam gerar atrasos na entrega da carga.

Lembre-se: em veículos onde não existe a possibilidade de controlar temperatura e umidade, o tempo de permanência dessa carga na estrada é extremamente importante.

Considerando a extensão do nosso país, é necessário redobrar a atenção na hora de escolher rotas eficientes. Quanto mais tempo os grãos ficarem parados em condições não ideais, maiores serão as perdas.

2. São muitos grãos para um caminhãozinho? Analise

Assim como a rota pode fazer toda a diferença, os caminhões e suas condições para o transporte de grãos têm uma grande influência na meta de reduzir as perdas diretas.

É preciso escolher o porte de veículo ideal de acordo com a demanda, verificando se as manutenções estão em dia e se o estado do caminhão está de acordo com o trajeto que ele precisará percorrer.

A carroceria deve apresentar suporte para cargas pesadas, como a basculante de grade alta ou a graneleira. Quanto mais impacto e movimento a carga sofrer, maior será o potencial de perda, tanto pelos grãos que forem projetados para fora da carroceria quanto pelos danos físicos dos que permanecerem até o destino final.

Na hora de carregar o caminhão, é preciso distribuir bem o peso da carga entre as carretas, sem sobrecarregá-las. Quanto mais próximo o grão estiver da lona e maior o peso do carregamento por eixo, maior será o risco de tombamento e perda total da carga.

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Caminhões com peso acima do limite tem maior dificuldade em frear e fazer curvas, além de serem passíveis de multas caso a balança acuse o excesso.

Ajustar a lona corretamente também previne perdas e danos nos grãos pela infiltração de água da chuva. Carrocerias com arco e lonas bem amarradas ajudarão a evitar surpresas ruins na hora de pesar e receber pela produtividade e qualidade da sua colheita.

Manutenções periódicas e limpeza correta dos caminhões antes do carregamento também são pilares fundamentais para quem quer proteger a produtividade na pós-colheita.

3. A união faz a força: capacite sua equipe de motoristas

Por fim, mas extremamente importante, temos o fator capacitação. Motoristas bem treinados ajudam a não deixar dinheiro pelas estradas, pois sabem como conferir a carga, sabem identificar problemas no veículo de maneira precoce e sabem conduzir o transporte com cuidado e segurança, evitando danos e acidentes.

Com o avanço da tecnologia no campo e na logística, os motoristas precisam estar atualizados sobre como utilizar da melhor forma as ferramentas que estão disponíveis para tornar o seu trabalho mais eficiente e otimizado. Os motoristas precisam estar seguros e preparados para lidar com os desafios das rodovias brasileiras.

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A recomendação aqui é utilizar as tecnologias disponíveis para monitoramento, segurança, rastreabilidade da carga e planejamento de rotas automatizado, para que os motoristas recebam alertas em tempo real e possam realizar as alterações necessárias sem maiores problemas ou prejuízos.

As boas práticas fazem a diferença no campo e fora dele: profissionais bem capacitados, com experiência em direção defensiva e segura, serão aliados na hora de evitar as perdas de grãos no transporte rodoviário.

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