Um estudo feito pela SIRE (Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas), da Embrapa, sobre as exportações do Brasil nas últimas duas décadas, mostrou que o país alcançou posições importantes no mercado internacional, tanto em termos de produção agrícola quanto de exportações. A pesquisa aponta que o Brasil ocupa a quarta posição no ranking como produtor mundial de grãos, atrás somente dos Estados Unidos, da China e da Índia.

Nos últimos anos, o país vem se consolidando entre os maiores produtores e exportadores de soja do mundo. No ano passado, alcançou a primeira posição, com 126 milhões de toneladas produzidas e 84 milhões exportadas, tornando-o responsável por 50% da comercialização mundial da soja neste período.

Em 2020, as exportações brasileiras do grão somaram US$ 28,5 bilhões em faturamento, já em 2021, até a terceira semana de setembro, as exportações de soja geraram US$ 30,5 bilhões. Diante desse cenário, nota-se que a cultura de soja elevou o patamar da agricultura brasileira, colocando-a em destaque como referência mundial. 

Os investimentos feitos recentemente estiveram voltados a pesquisas que trouxeram avanço para a ciência, propuseram tecnologias adequadas e inovações modernizadas, além da preocupação em aplicar objetividade em políticas públicas e capacitação aos agricultores.

A cultura da soja tornou-se um exemplo de como a tecnologia proporciona melhorias e avanços na produção agrícola, visto que os primeiros cultivos comerciais do grão foram registrados na década de 1960, no Estado do Rio Grande do Sul. Considerada uma planta de clima frio, implementá-la em outras regiões do Brasil foi um desafio biológico e tecnológico.

A soja e seus desafios

O processo produtivo da soja demanda diversos cuidados e práticas de manejo conduzidos pelos produtores para que a lavoura expresse seu máximo potencial durante todo o ciclo da cultura. Assim como em outros contextos de cultivo, as plantas daninhas interferem de maneira significativa e atrapalham o desenvolvimento da soja, podendo acarretar até mesmo na perda total da lavoura.

O grande problema é que as plantas daninhas acabam competindo com a soja por recursos como luz, nutrientes, água e espaço, fazendo com que a cultura tenha redução na sua capacidade de desenvolvimento, diminuindo a produtividade e a qualidade do produto final. Além disso, as plantas daninhas também atrapalham o momento da colheita, desvalorizando o produto, e favorecem o surgimento de pragas e doenças.

Por isso, é necessário agir de forma rápida e preventiva, adotando práticas de controle superiores para aplicar alternativas que devem ser seguidas de maneira conjunta, observando-se as características específicas de cada etapa do sistema produtivo.

Conheça as plantas daninhas mais comuns na cultura da soja

Como já mencionado, a ocorrência de plantas daninhas é extremamente prejudicial à cultura de soja, principalmente quando não são aplicadas medidas de controle ou se as práticas adotadas não forem realizadas de maneira criteriosa.

Além dos danos e dos custos envolvidos no controle de plantas daninhas, as lavouras ainda contam com outro agravante: a existência de plantas daninhas resistentes a alguns herbicidas, tendo o glifosato como destaque, o que torna o controle das invasoras ainda mais difícil.

Na prática, essa resistência se deve ao processo de aplicações repetidas e continuadas (de um mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação), durante determinado período de tempo.

Confira a seguir algumas plantas daninhas resistentes e de difícil controle que causam prejuízos na lavoura de soja:

  • Azevém (Lolium multiflorum):  planta anual ou bianual reproduzida por sementes.

  • Buva (Conyza spp.): considerada de difícil controle, principalmente pela resistência a vários mecanismos de ação, incluindo os inibidores da EPSPS (glifosato). Na cultura de soja, uma única planta por metro quadrado já pode causar grandes prejuízos. A ocorrência dessa espécie nas lavouras de soja, em alguns casos, pode reduzir a produção em até 80%.

  • Capim-amargoso (Digitaria insularis): planta adaptada a diferentes ambientes agrícolas e que floresce o ano todo, com enorme capacidade de dispersão. Essa espécie também pode reduzir significativamente a produtividade da soja por causa da competição que estabelece com a cultura.

  • Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica): essa invasora possui resistência aos herbicidas glifosato, fenoxaprop e haloxyfop. Além dos registrados no Brasil, foram relatados 30 casos de resistência em outros 10 países.

  • Caruru-roxo (Amaranthus hybridus): é uma espécie que pode atingir até 2,5 m, possui variabilidade genética e produz uma grande quantidade de sementes. Os casos registrados de resistência ao glifosato preocupam, especialmente na região Sul do país.

Além dos danos causados, uma das principais consequências de plantas daninhas resistentes a herbicidas é o aumento dos custos de controle no principal sistema de produção agrícola do Brasil: o cultivo de soja.

Um estudo da Embrapa, realizado em 2017, propõe a estimativa do custo de controle de plantas daninhas resistentes na soja, de populações isoladas ou mistas com resistência somente ao glifosato e múltipla para os inibidores da ALS e ACCase.

No gráfico abaixo, nota-se um grande aumento dos custos em lavouras com a presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato, variando em média entre 42% e 48% para as infestações isoladas de buva e azevém, respectivamente, e até 165% na presença de capim-amargoso.

Gráfico - aumento dos custos em relação ao não resistente

Fonte: Embrapa

Em situações de maior dificuldade de manejo, os custos para controle dessas espécies basicamente triplicaram em relação ao custo mínimo, tendo um aumento de 125% para a buva, de 148% para o azevém e de 290% para o capim-amargoso.

Também se pode observar no gráfico que, em situações de infestação mista de buva e capim-amargoso, ocorre um aumento exagerado em relação aos custos de controle. Já em casos extremos de alta infestação, pode atingir a máxima de 403% de aumento.

Portanto, o custo médio para o controle de plantas daninhas resistentes na produção de soja no Brasil é estimado em mais de R$ 4 bilhões ao ano. Ao acrescentarmos os prejuízos causados pela matocompetição na cultura da soja, esse total pode chegar a R$ 9 bilhões.

Manejo Integrado para o controle de plantas daninhas

Diante desse contexto, é fundamental que todos os elos do setor produtivo de soja estejam conscientes da importância do controle de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, começando pelo planejamento de ação do MIPD.

Entre os principais métodos do MIPD destacam-se: a escolha correta de sementes sadias, utilização de cultivares adaptados às regiões, verificação da melhor época para realizar o plantio, avaliação da densidade adequada de plantas na área, adoção da rotação de culturas e controle químico adequado.

Quando o assunto é resistência, o controle químico, que é uma das ferramentas mais eficientes no controle de plantas invasoras, deve ser observado com critério, considerando o correto posicionamento e a escolha das melhores soluções para cada situação.

Ele pode e deve ser realizado em momentos distintos do ciclo produtivo, contribuindo para um melhor manejo das espécies. Como medidas importantes para o controle químico, podemos citar:

  • Dessecação pré-plantio: prática usada para eliminar toda a vegetação existente em uma área antes da semeadura da soja. A dessecação em pré-plantio prepara a área para a semeadura da cultura, além de também ser uma medida eficiente no controle de daninhas resistentes, como a buva e o capim-amargoso.

  • Manejo pré-emergente: esse controle permite que as daninhas sejam controladas antes mesmo da competição com a cultura. É um manejo que oferece condições para que a soja se desenvolva em terreno limpo por mais tempo, possibilitando aumento do PAI (Período Anterior à Interferência), quando a cultura pode conviver com a planta daninha sem que haja perda significativa na produtividade e permitindo a diminuição no número de aplicações em pós-emergência. O controle em pré-emergência das plantas daninhas ainda possibilita maior rotação dos mecanismos de ação herbicidas, o que contribui para o manejo de resistência.

  • Manejo pós-emergente: igualmente considerado de grande importância, é mais eficiente quando incluído no programa de manejo integrado. O momento das aplicações em pós-emergência deve considerar o padrão de crescimento das daninhas e o estádio de desenvolvimento das plantas. Essas aplicações propiciam que a cultura se desenvolva no limpo até o fechamento das linhas.

  • Manejo antecipado: é uma estratégia eficiente para impedir a ocorrência de novos fluxos germinativos de gramíneas e folhas largas ao final do ciclo produtivo. O manejo antecipado é uma importante ferramenta para o controle de plantas daninhas resistentes e de difícil controle, pois permite que essas espécies sejam controladas logo nos estádios iniciais de desenvolvimento, sendo esse controle realizado, aproximadamente, 45 dias antes do plantio da soja. Outras vantagens são a possibilidade da utilização de moléculas diferentes daquelas comumente usadas em outros momentos da lavoura, além da maior facilidade operacional, já que não há cultura instalada no momento da intervenção.

Vale ressaltar que, em qualquer sistema de produção agrícola e em qualquer cenário de resistência, o MIPD deve ser sempre orientado por um engenheiro agrônomo. Além disso, para garantir eficiência no controle químico, é necessário observar questões relacionadas à tecnologia de aplicação. Nesse sentido, alguns cuidados são necessários, como verificar o estado de conservação do pulverizador, a regulagem adequada e o cálculo correto das doses dos herbicidas, assim como observar as condições climáticas adequadas para aplicação.

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Redação Mais Agro