Superando as expectativas – que já eram de recorde de produção – a safra de milho 2022/23 encerra mais tarde que o normal em alguns Estados produtores devido ao atraso em toda a cadeia produtiva soja-milho e por obstáculos de armazenagem e logística.

Por outro lado, a safra estabelece de vez a cultura como segunda maior do país, o que a coloca em uma posição ainda mais relevante no mercado internacional.

Este artigo reúne os detalhes sobre esse cenário e as próximas projeções para o mercado do milho. Confira!

Resultados da safra de milho 2022/23

Com as lavouras se encaminhando para a colheita dos últimos hectares da safrinha, a safra de milho 2022/23 quebrou recordes de produção e de produtividade. Segundo a Conab, a expectativa final é de 130 milhões de toneladas produzidas – 14,9% a mais que a safra passada – em cerca de 22,2 milhões de hectares, o que representa uma expansão de 2,9% na área cultivada com a cultura. A produtividade média, por sua vez, ficou em 5.855 kg/ha, um acréscimo de 11,7% em relação a 2021/22.

  • Na primeira safra foram semeados 4,44 milhões de hectares, que proporcionaram uma produção de 27,4 milhões de toneladas, a uma produtividade média de 6.160 kg/ha, a segunda melhor da série histórica, ficando atrás apenas do patamar alcançado na safra 2018/19. A região Sul é a maior produtora de milho na primeira safra, mas é o Estado de Minas Gerais que lidera o ranking, com uma produção de mais de 5 milhões de toneladas. Em termos de produtividade, no entanto, quem leva a melhor é o Mato Grosso do Sul, com números que beiram os 11 mil kg/ha.O  Paraná vem logo em seguida, com quase 10 mil kg/ha.
  • Já na segunda safra, uma área de 17,1 milhões de hectares foi destinada ao cultivo de milho, gerando 100,18 milhões de toneladas, um total 16,6% superior à marca da safra anterior, que já havia sido recorde. A produtividade média na segunda safra ficou em torno de 5.856 kg/ha, com os Estados de Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal apresentando produtividades um pouco acima da média nacional. Apesar da produtividade abaixo da média da primeira safra – esperada por conta das condições climáticas menos favoráveis ao desenvolvimento da cultura – o aumento da área cultivada com o grão na segunda safra, somado ao maior investimento em tecnologias por parte dos produtores, garantiram a produção total recorde.
  • A terceira safra, cultivada majoritariamente no Nordeste, deve contribuir com cerca de 2,4 milhões de toneladas para a produção total da safra de milho 2022/23. Devido ao maior custo de produção, houve uma redução de 2,8% na área plantada, totalizando 634,8 mil hectares, sendo a Bahia responsável por quase metade das terras destinadas ao cultivo. Entretanto, por conta da prevalência de produtores mais tecnificados, a produtividade deve ser aproximadamente 11% superior à da temporada passada, com uma média de 3,7 kg/ha.

Diante dos números dessa safra, o milho brasileiro ganhou ainda mais expressão no cenário internacional, devendo se tornar protagonista do ranking de exportação, superando os Estados Unidos, que registraram queda na produção. Entenda melhor a seguir.

Cenário internacional

No início da safra, a região produtora de milho nos Estados Unidos sofreu com uma forte seca, o que reduziu o potencial de rendimento de algumas lavouras e deixou o mercado internacional apreensivo. Entretanto, nos últimos relatórios, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), apesar de ter diminuído as projeções de produtividade, indica que a produção não chegará a sofrer uma perda muito relevante.

Ainda assim, os números de produção deverão ser inferiores aos do ano passado e da média dos últimos cinco anos, ficando na casa de 380 a 385 milhões de toneladas, abrindo ainda mais espaço para o milho brasileiro assumir a liderança das exportações. A projeção do relatório do USDA é que 55 milhões de toneladas saiam dos portos brasileiros para abastecer o mercado externo, ultrapassando o fornecimento dos Estados Unidos.

Com relação aos outros grandes produtores, a China sofreu com algumas inundações que podem causar um certo impacto na produção final, mas nada muito significativo. A Argentina, por sua vez, teve quebra de safra e não dispõe de volume suficiente para atender a demanda por exportação, que pode ser incorporada pelo Brasil.

Logística e armazenagem como gargalos da cadeia produtiva de milho

safra de milho

Se, por um lado, produtores têm empregado esforços para alavancar a produção e a produtividade das lavouras, investindo em tecnologias, enfrentando condições climáticas adversas e vencendo desafios relacionados à ocorrência de pragas e doenças, por outro, a infraestrutura para absorver tamanho crescimento tem deixado a desejar.

Com uma capacidade de armazenamento estática de 195,2 milhões de toneladas diante de uma produção de grãos estimada em mais de 320 milhões de toneladas, o Brasil sofre com um sério problema de déficit de espaço para armazenagem dos grãos, gerando impacto na logística de escoamento e no poder de negociação do produtor. Entre 2010 e 2022 houve um acréscimo de 35% na capacidade de armazenagem, o que foi insuficiente para acompanhar o crescimento de 82% da produção no mesmo período.

A falta de espaço para armazenagem gera um efeito cascata, fazendo com que caminhões carregados fiquem parados em filas, acarretando falta de veículos para receber o grão colhido e, consequentemente, paralisando também a colheita, como ocorreu em Goiás e no Mato Grosso.

Todos esses desdobramentos geram prejuízos: aumentam o custo do frete, aumentam o custo de produção, com máquinas ociosas em campo, e pode até gerar perdas de produção, uma vez que a lavoura fica sujeita a fatores como acamamento, ataques de pragas e germinação dos grãos nas espigas.

Além disso, a dependência excessiva e a baixa qualidade da malha rodoviária brasileira são outros aspectos que prejudicam o escoamento da produção de grãos. Esse cenário também é um obstáculo para a gestão financeira dos produtores, que ficam tolhidos da possibilidade de aguardar o melhor momento para comercializar seus grãos, e se veem obrigados a vender por preços que podem não compensar os custos de produção.

Nesse contexto, fica evidente a necessidade imediata de ampliação da capacidade de armazenagem existente, bem como da construção de novos armazéns e, tendo em vista um futuro ainda mais produtivo, torna-se imprescindível implementar soluções mais modernas, econômicas e sustentáveis, que levem em conta as particularidades de cada região de cultivo.

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Tendências do mercado de milho para os próximos meses

Nos últimos meses os produtores de milho andaram desanimados com os preços praticados no mercado, que ficaram na faixa de R$ 50 a R$ 55 a saca, muito abaixo do que no mesmo período do ano passado, em alguns casos abaixo até mesmo do custo de produção. Essa queda nos preços é atribuída principalmente à expectativa de alta oferta e à volatilidade das cotações do mercado externo devido a alguns fatores, como as questões políticas do Leste Europeu.

Por conta desse cenário, agricultores de Estados como MA, RS, SP, DF, GO, BA, MS, MT, PR e TO estão autorizados a comercializar os grãos para a Conab para formação de estoques públicos, por meio do mecanismo de Aquisição do Governo Federal (AGF), previsto na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). Trata-se de uma estratégia para garantir renda aos produtores quando os preços praticados no mercado interno ficam abaixo do Preço Mínimo estabelecido.

Produtores que tiverem interesse na venda devem estar cadastrados no Sistema de Cadastro Nacional de Produtores Rurais (Sican) e procurar a superintendência regional da Conab em seu Estado para maiores orientações.

Para a compra ser finalizada, o produto deve atender aos padrões de qualidade estabelecidos pela Conab. Além disso, existe um limite para a comercialização: 30 mil sacas por agricultor no MT, 10 mil sacas por agricultor em GO e MS, e 3,3 mil sacas por agricultor nos demais Estados. 

No entanto, as projeções para os próximos meses são um pouco mais animadoras. Com a intensificação das exportações do grão nos meses de setembro, outubro e novembro, somada à expectativa de queda na área destinada ao plantio de milho na safra de verão 2023/24 e, juntamente com uma demanda aquecida no mercado interno, – impulsionada principalmente pelo mercado de nutrição animal e também de etanol – a tendência é que o preço pago ao produtor sofra uma leve alta no final deste ano e no início do próximo, devendo ficar na faixa de R$ 65 a saca – valor um pouco melhor do que o praticado nos últimos meses, mas ainda bem abaixo do patamar registrado no início do ano.

Sendo assim, o produtor que estiver com as contas equalizadas e dispuser de espaço de armazenamento pode optar por aguardar um momento mais favorável para as negociações. 

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