Plantas daninhas podem reduzir a produtividade do café em até 100%, por isso, estratégias de manejo são importantes para reduzir a interferência das plantas invasoras no cultivo.

Com os desafios enfrentados nas últimas safras, como a ocorrência de geadas, o estresse hídrico severo e, consequentemente, a necessidade de aumento das áreas podadas ou até mesmo decepadas, as plantas daninhas encontraram um ambiente propício para o seu desenvolvimento. A ausência do sombreamento, ocasionada pelas plantas de café podadas, confere um ambiente favorável para o crescimento das daninhas.

No entanto, engana-se quem pensa que as plantas daninhas são as vilãs do cultivo, pelo contrário. Quando bem manejadas, podem se tornar aliadas da produção de café, especialmente no que se refere ao manejo sustentável do solo. É o que afirmam produtores e pesquisadores da cultura do café no podcast Cafeína, uma iniciativa da Syngenta para debater temas relevantes à cafeicultura do país.

Invasoras podem ser inimigas ou aliadas, a depender do manejo

Atualmente as principais plantas daninhas que causam danos na cultura do café incluem:

  • plantas daninhas de folhas largas como buva, corda-de-viola e caruru;
  • plantas daninhas de folhas estreitas como capim-amargoso e capim-pé-de-galinha.

A diferenciação e a caracterização das plantas invasoras que estão ocorrendo na área de plantio é importante para a escolha das melhores combinações de herbicidas que devem ser utilizados no controle.

Inicialmente, é preciso relembrar que uma planta que não faz parte do cultivo é considerada daninha quando esta atinge uma população que causa danos econômicos à cultura de interesse, neste caso, o café. Desta forma, a presença de plantas daninhas próximas às plantas de café pode interferir no desempenho produtivo da cultura.

No entanto, por outro lado, quando devidamente controladas e mantidas na entrelinha da cultura (sob roçadas constantes e depósito de palhada oriunda das roçadas na linha das plantas de café), podem conferir benefícios interessantes ao cultivo, dentre eles:

  • atuam como plantas de cobertura, evitando a exposição direta do solo às gotas de chuva durante as precipitações. Esta cobertura evita o impacto das gotas  no solo e evita que nutrientes e o próprio solo seja carregado pela água durante as chuvas, evitando portanto, que a erosão ocorra no cafezal;
  • é necessário lembrar que as plantas daninhas, antes de mais nada são plantas e participam do sistema de produção, promovendo diversidade biológica, isto porque, em suas raízes existem associações com microrganismos benéficos ao sistema, que são portanto, benéficos ao solo e ao próprio cafezal;
  • com a cobertura vegetal do solo, as raízes das plantas daninhas atuam evitando a compactação demasiada deste. A compactação nas entrelinhas é um problema, tendo em vista que o manejo mecânico para a descompactação é dificultado pelo relevo da maior parte das áreas de cultivo de café.

Atualmente, o manejo de plantas daninhas é um desafio para os cafeicultores, isto porque uma das principais moléculas de herbicidas, o glifosato, têm apresentado redução do controle e muitos relatos de resistência nas diferentes regiões produtoras de café já foram registrados. Este é o caso da buva, do caruru (duas espécies identificadas) e do picão preto.

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Desafios e alternativas para um manejo de daninhas mais sustentável

Dentre as daninhas, o capim-amargoso é o problema mais preocupante, isto porque o controle é difícil. A dificuldade no controle é decorrente de outros desafios: a tecnologia de aplicação e uso correto dos herbicidas.

No passado (e até o momento esta situação pode ser presenciada em algumas regiões produtoras), aplicações sequenciais do mesmo produto foram e são realizadas, levando a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas. Desta forma, na ausência de biótipos suscetíveis, as moléculas herbicidas deixaram de exercer o controle e as plantas daninhas tornaram-se um grande problema.

Como alternativa, têm-se usado o herbicida diquate, uma importante ferramenta de manejo. Além disso, a associação dos inibidores da protox e do glifosato podem ser uma alternativa importante no manejo, não somente das folhas estreitas, mas também das folhas largas.

No entanto, para que o controle seja efetivo, é indispensável que técnicos e produtores entendam como as moléculas utilizadas atuam, se estas são compatíveis e se existem interações negativas entre elas.

O desconhecimento desses fatores, pode levar ao controle ineficiente. Por exemplo, deve-se estar atento à determinadas misturas entre inibidores de protox e inibidores de ACCase, que podem interagir negativamente comprometendo o controle.

Por isso, o conhecimento técnico para manipulação das ferramentas é fundamental.

Alguns pontos importantes a serem considerados no manejo sustentável de plantas daninhas no café:

  • época de aplicação: em estações como a primavera/verão e início do inverno, o controle de daninhas deve ser priorizado, pois são as épocas mais críticas e propensas a infestações e interferências;
  • resíduos de herbicidas no café exportado: continente europeu reduziu os limites máximos tolerados de presença do glifosato em grãos de café de 10 p.p.m (partes por milhão), para 0,1 p.p.m. Na prática, isto significa que os produtores terão de se atentar não somente à época em que o controle das daninhas será realizada, mas também a tecnologia de aplicação e as características dos herbicidas.
    • Por exemplo, residuais mais longos para exercer adequado controle, especialmente a partir da poda, que corresponde aos meses de novembro/dezembro, e aplicação mais longe possível da colheita;
  • tecnologia de aplicação para evitar deriva é fundamental;
  • respeitar a dosagem indicada pelo fabricante também é indispensável para evitar problemas na comercialização do grão, vide limites máximos de resíduos tolerados;
  • racionalizar aplicações, especialmente do glifosato, pulverizando a área em períodos distantes da colheita e utilização de herbicidas residuais pré-emergentes para evitar a germinação das plantas daninhas presentes no banco de sementes no solo;
  • cuidados com a eliminação total de plantas nas entrelinhas ou ausência de plantas de cobertura. O solo nu, com ausência de plantas e, portanto, de sistema radicular, favorece a compactação da área, prejudicando as plantas. Além disso, em virtude da compactação há dificuldade de absorção e infiltração de água no solo em profundidade, interferindo na sua capacidade de armazenamento de água e consequentemente na disponibilidade desta em períodos mais longos de ausência de chuvas. Dada a dificuldade de manejo para realizar a descompactação da área, para evitar este problema, as plantas daninhas podem ser um recurso para o manejo sustentável do cultivo.

O manejo de resistência também deve ser considerado.

Manejo de resistência de plantas daninhas no café

Como comentado anteriormente, a maior preocupação quando o assunto é manejo de plantas daninhas é o manejo de resistência, haja vista a dificuldade de controle de inúmeras espécies que interferem negativamente na produção de café. Para isso, algumas recomendações importantes podem ser utilizadas:

  • rotação de herbicidas: mecanismos de ação e moléculas devem ser rotacionadas durante as aplicações, evitando que uma mesma molécula ou mecanismo de ação seja utilizado sequencialmente;
  • rotação de ingredientes ativos: é a premissa para prevenir a seleção de plantas resistentes aos herbicidas;

Para os produtores que já observaram ou têm conhecimento da resistência ocorrendo no seu cafezal, a abordagem a ser seguida é entender como manejar o problema.

Para o controle do capim-amargoso, por exemplo, os resultados em aplicações pós-emergentes têm sido ineficientes, sendo o uso de herbicidas inibidores da ACCase uma alternativa, como clethodim, fluazifop  e haloxyfop.

Para as daninhas de folhas largas, em contrapartida, os inibidores da protox podem ser uma alternativa. Deste modo, a chamada “casadinha”, associação entre dois herbicidas que contemple o controle das plantas daninhas de folhas largas e estreitas é uma alternativa ao manejo, conferindo controle eficiente e racional.

Há de se considerar ainda que a eficiência dos herbicidas está relacionada ao fato de que, em diferentes épocas do ano, a predominância de plantas consideradas daninhas é diferente. Deste modo, é necessário observar quais são as plantas daninhas presentes nas diferentes épocas, para a escolha adequada de qual herbicida será utilizado nas aplicações, levando em consideração o manejo de resistência e a rotação de ingredientes ativos.

Ferramentas no manejo de plantas daninhas no café 

Outro ponto importante é que um cafezal bem estabelecido, vigoroso e sombreado, por si só, é parte de um bom controle de plantas daninhas, por isso, o manejo das plantas de café, com nutrição e tratos culturais adequados é fundamental.

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Além disso, um ponto bastante negligenciado é o conhecimento de como os herbicidas atuam em relação à umidade do solo e às condições ambientais.

Esta informação, aliada ao conhecimento de quais condições ambientais são necessárias para maior eficiência dos herbicidas selecionados, também são importantes no resultado final do controle.

Há de se considerar que alguns herbicidas são mais eficientes quando o solo apresenta baixa umidade, do contrário, outros tem maior eficiência em solo úmido, assim como a presença de luz solar também pode favorecer algumas moléculas e prejudicar outras. Por isso utilizar o maior conjunto de informações possíveis para planejar e realizar o controle é fundamental.

A associação entre conhecimento técnico sobre as moléculas utilizadas e formas de controle disponíveis (como controle cultural, mecânico, químico e biológico, quando disponíveis), ajustadas ainda às tecnologias em herbicidas e em tecnologias de aplicação que reduzam a deriva dos herbicidas, são a combinação perfeita para um manejo racional, sustentável e eficiente. Resultando em um bom controle de daninhas, diminuição dos riscos de resistência e, por consequência, aumento da produtividade e da qualidade.

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